Parei de escrever nas notas do celular
Hoje, mais cedo, precisei editar uma mensagem de texto e escrevê-la o mais “academicamente” possível, para assim pudesse enviar a uma pessoa importante. Corri para o aplicativo de notas do celular para elaborar o texto, e editar por diversas vezes até que ficasse bom, para em fim ser enviado.
Ao entrar no aplicativo fiquei olhando a última nota escrita, data do 03 de dezembro de 2024. Lembrei do momento em que escrevi, do conteúdo do texto, dos sentimentos que me atravessam naquela madrugada. Lembrei de tudo.
Lembrei até de quando eu era criança, recordo que eu nunca tive um diário. O hábito da escrita sobre meus sentimentos não era parte da minha rotina, mesmo sendo uma criança nos anos 2000. Para quem não sabe ou não se recorda, nessa época, era uma febre os diários entre as garotas, acredito que isso era o resultado dos filmes americanos adolescentes que assistíamos.
Lembro que eu tinha muitos caderninhos, mas todos eram dedicados somente para os desenhos de bonecas e as roupas das delas. Meu sonho de infância era ser uma grande estilista de moda, mas uma influência dos filmes de garotas anos 00’.
Na fase da adolescência, a coisa do diário era visto como infantil demais. Todas as outras adolescentes a minha volta escreviam sobre suas vidas nas redes sociais. Minha geração não era tão diferente de como os jovens são atualmente, apesar de termos começado só com notas diárias de “como estou me sentindo hoje + seguido de uma série de emojis” no Orkut, depois veio o Facebook, Snapchat e Instagram e etc…
Lembro de quando ganhei meu primeiro celular aos 14 anos. Nossa! foi um sonho realizado para mim. Todas as minhas amigas tinha um celular, e eu era uma das poucas pessoas da escola e entre os amigos que, até então, não tinha celular. Assim que ganhei comecei a manusear o aparelho, muito curiosa, queria descobrir como tudo funcionava. Fui fuçando aplicativo por aplicativo, até que descobri as notas, de primeiro momento achei meio inútil, pois não tinha nada para anotar.
Na minha cabeça “notas” eram para “anotações”, “bilhetes para si mesma” sobre algo que não se poderia esquecer. Sabe quando você faz uma lista de compras antes de ir ao mercado, anotando todos os itens que faltam em casa para não esquecer o que deve ser comprado? Pois bem, era isso que eu entendia como funcionalidade daquele aplicativo. E eu entendia que não tinha nada a anotar.
Meses depois, no fervor dos sentimentos adolescentes, eu e minha melhor amiga da época tivemos uma “briga” e ficamos sem nos comunicar por algumas semanas. Nesse meio tempo, muitas coisas aconteceram, quer dizer… nada de relevante, se bem paro e penso agora, mas para eu adolescente ERA MUITO RELEVANTE! Foi neste momento que senti a necessidade de anotar tudinho, assim como uma lista de compras, para que não me esquecesse contar de nenhum detalhe a ela, quando nós voltássemos a ser “amigas”.
Desde esse momento da listagem de detalhes de acontecimentos e fofocas, não parei de escrever nas notas. Claro que o conteúdo obviamente foi mudando ao longo do tempo, no espaço dedicado aos detalhes das mini fofocas, dei abertura para as palavras que viam do meu íntimo, fiz desse aplicativo o meu diário eletrônico de menininha.
Comecei a escrever sempre que os sentimentos transbordavam. Quando a angustia e ansiedade me sufocavam. Quando pensamentos sobre tudo e todos não que deixavam parar e respirar. Escrever sobre o que eu sentia foi um bom hábito que adquiri, isto me ajudou a validar aquilo que sentia, da forma eu sentia: em cada parte do meu corpo e na minha mente.
Meu celular antigo ainda estar cheinho dessas notas. Esse meu celular de agora, tem um pouco mais de 1 ano que estar comigo, e com preocupação digo, quase não te nenhuma nota sobre sentimentos, anseios ou listas de detalhes que não posso esquecer. Penso que esse era um bom hábito que eu tenho perdido, mas que gostaria de recomeçar e me (re)encontrar na escrita sobre mim. Penso que talvez este aplicativo seja a minha nova “notas do celular”.